quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A recusa da realidade

Entre 1892 e 1894, houve em França um verdadeiro surto de anarco-terrorismo. Um dos mais famosos casos foi o de Émile Henry. Em seu julgamento, pouco antes de explicar seus atos, o jovem anarquista se levantou, virou-se para os jurados e disse: «Não é uma defesa que vos quero apresentar. Não tento de forma alguma furtar-me às represálias da sociedade que ataquei. De resto, só aceito um único tribunal - eu próprio; e o veredicto de qualquer outro me é indiferente».

Imaginem o assombro e a perplexidade pelos quais foram acometidos os jurados. A maior parte deve ter se ressentido do fato de o réu se mostrar tão convicto das próprias ações. O problema é que, digamos, uma dessas ações foi a explosão de um café em Paris. Menos de um mês depois, Émile foi condenado à morte e executado.

Não creio que a afirmação feita aos jurados seja, em si, moralmente repreensível. Pelo contrário. Trata-se de uma defesa da consciência individual. Porém, ela carrega também a recusa convicta da realidade. Por mais que nunca admitisse, o jovem e revoltado anarquista não queria senão fazer a coisa certa. Ele queria fazer o bem, ainda que, para ele, isto significasse matar burgueses e atacar a moral vigente.

A revolta de Émile Henry é uma revolta metafísica. Diz Camus que «o revoltado desafia mais do que nega». Ainda que se dissesse ateu, o fato é que Émile não suprimiu Deus, apenas quis falar-Lhe de igual para igual. Se os jurados se ressentiram de suas palavras, é certo que o ressentimento de Émile para com a realidade era muito maior. São rancores como esse que criaram os Robespierres.

No referido episódio, a recusa da realidade é patente. Ela o é bem menos nas situações banais de nosso cotidiano. A cada vez que ouvimos um «mas o que você quer que eu faça?», ou um «mas por que eu?» - não raro proferido por nós mesmos -, voilà, lá está nossa revolta por termos nosso desejo contrariado. Recusamo-nos a enxergar as conseqüências de nossos atos sobre outras pessoas. No entanto, gritamos e choramingamos quando, na situação inversa, temos que pagar pelo mal cometido por outrem.


Tenham todos um feliz natal.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Le vote suisse contre les minarets

Não deixem de ler, no blogue do Ivan Rioufol, seus comentários sobre o voto suíço contra os minaretes islâmicos. A Folha entrevistou o deputado Oskar Freysinger, autor da proposta (aqui). A entrevista dá a entender que o senhor Freysinger é um ultranacionalista xenófobo e radical. Eu não sei, talvez seja mesmo. Mas não custa lembrar que Bruxelas, a capital da União Européia, será, em vinte anos, majoritariamente muçulmana.