quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A decadência dos trópicos

Aproveito as férias para ler Fogo Morto, de José Lins do Rego. Ótimo romance. Uma coisa, porém, chama-me a atenção. Não é que eu não me interesse pela decadência do patriarcalismo e dos senhores de engenho no Brasil. Há ótimos romances sobre o assunto - veja-se, por exemplo, Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso. Apenas fico com a vaga sensação de que, a julgar pela literatura, algumas coisas no Brasil nasceram decadentes. Vejam vocês quantas obras - sejam sociológicas, políticas ou romances - sobre patriarcalismo, engenhos, coronelismo, bandeiras, etc., tratam de seus períodos de decadência e quantas tratam de sua glória. Alguém já viu alguma dissertação de Sociologia intitulada «Glória e Prosperidade do Patriarcalismo Paraibano»? Eu nunca procurei, mas imagino que não exista.

Esta pequena divagação me conduz a uma outra, qual seja: na longínqua hipótese de o Brasil se tornar uma potência - não, isso não vai ocorrer, e de todo modo uso o termo potência de modo propositalmente vago -, será que as instituições brasileiras supracitadas se tornarão menos decadentes? Comparem, por exemplo, a imagem difusa que nossa mente conserva do que aprendemos sobre, digamos, os pioneiros norte-americanos e os bandeirantes brasileiros. Na minha mente, vejo os pioneiros como desbravadores, homens decentes que agiam movidos por algum ideal. Em contrapartida, a imagem que tenho dos bandeirantes é esta: índios e caboclos boçais, sujos e descalços, comandados por um ou dois brancos sujos, de braguilhas desabotoadas (supondo que as tivessem), todos eles na mais profunda complacência com a imoralidade, agindo tão-somente por razões imediatas e instintos. Em suma: os primeiros, homens de bem; os segundos, animais. Aos primeiros eu apresentaria minha família; aos segundos eu diria «xô, xô, sai daqui».

Como dizia, será possível que, se um dia o Brasil se tornar uma nação respeitável, os senhores de engenho e os bandeirantes se tornarão menos repulsivos? O patriarcalismo se tornará uma instituição menos decadente? Prefiro pensar que não.

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